sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cidadão comum

"Nasci em um Abril ensolarado, daqueles de rachar a pele, na Maternidade Santa Terezinha, em São João de Meriti.

O ano? 1984. Ano em que o Brasil viveu o grande comício pedindo Diretas já!

E eu com seis dias de vida, só queria Direitos já!

Minha mãe, coitada, era uma mulher que não tinha a menor curiosidade em vislumbrar o futuro e aí, quando eu completei três dias de vida, me entregou a uma senhora, que por sua vez iria entregar-me a um casal que não podia gerar filhos.

Os três dias que passei em sua companhia foram simples, cheios de leite e muito barulho no apartamento que vivia com outros tantos parentes.

Meu irmão, pouco maior que eu e minha irmã, também viviam naquele caos.

Meu pai, não sei quem é, ou melhor, nem sei se foi um homem que me gerou, pois me parece que sou filho do espermatozóide que no saco comanda as ações daquilo que caminha, se alimenta, transa e depois dorme tranquilamente.

Foram três dias intensos, no subúrbio do Rio de Janeiro. Minha avó, D. Sebastiana morava em um conjunto habitacional com outros filhos e minha mãe. Era aperto no sentido físico mesmo e aperto de grana e alimentos.

Na verdade, sou a foda mal dada que tanto acontece no Brasil. Carmem Lúcia e João Vitor, meus irmãos, nunca mais soube notícias, e de minha mãe, ninguém se lembra do nome. Depois de meu nascimento, parece que minha mãe não aprendeu nada em relação à fuder, pois tenho notícias bem truncadas de que outros “eus” vieram ao mundo.

Mais crianças geradas pela vontade do saco e da insistência do espermatozóide.

Maternidade Santa Terezinha, Rocha Sobrinho, conjunto habitacional, D.Sebastiana, prédio com uma imagem de S.Sebastião, Carmem Lúcia e João Vitor, são as memórias dos três dias que me alimentei gratuitamente nos seios da mãe sem nome que me gerou."

Cidadão comum

Em Janeiro, recebi este texto de um desconhecido e troquei alguns emails com a pessoa, que se identificou como rapaz, 26 anos e que entre outras coisas, escreveu um trecho do início de sua biografia.

Tentei que ele mesmo publicasse em forma de blog, mas ele disse que não tinha disciplina para isto e se eu poderia fazer isto por ele.

Assim o fiz. Fiz uma conta só para ele e conforme me enviava os emails, eu publicava neste blog.

Foram somente três postagens e depois ele sumiu. Me lembrei disto, lendo o blog do amigo Lacerda que perguntava por uma blogueira que acompanhamos e que parou com as postagens. Então, como ele mesmo diz, dei uma lambida em seu blog e postei este assunto que estava adormecido.

Menino, peço que continue a escrever, seja sua vida ou não. Eu gostei, e se for sua biografia, creio que te fará bem!

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